Fashionismo entrevista: Susana Barbosa

Imagina o que é para uma blogueira de moda entrevistar a editora da maior revista de moda do país? Pois bem, Conheci Susana Barbosa da Elle no último Fashion Rio, e ela foi extremamente simpática e antenciosa com a dezena de blogueiras que estavam em sua volta. Depois disso, não resisti, pedi uma entrevista pro blog, e ela prontamente atendeu!

Como é o dia de uma editora de moda? Há todo aquele glamour visto em filmes e novelas? Você fica só na parte criativa ou existe muita burocracia por trás disso?
É bastante cheio. Mil reuniões, ligações para fotógrafos e para agências de modelos, sobe e desce no acervo para editar matérias. Muitas coisas para decidir, pensar, organizar. No fim das contas exige muita disciplina e organização. É um trabalho como outro qualquer, com as coisas boas de quando se faz o que gosta e com as coisas ruins que todos temos que fazer.

Como a equipe é pequena, não posso me dar ao luxo de ficar só na parte criativa. Faço de tudo: orçamento, casting, produção de locação e até colo fita crepe nos sapatos se precisar. Acho que o glamour da profissão está em poder trabalhar com o que é belo: roupas, pessoas, lugares. No mais, é um trabalho de muita responsabilidade e exige muita dedicação. Uma espécie de sacerdócio.

Para as meninas que querem trabalhar em revistas e com jornalista de moda, qual é a formação que você aconselha? E quais cursos de extensão você considera valioso pra incrementar um currículo?
Se o interesse for ser jornalista de moda, escrever, acho importante um curso de jornalismo. Acho que se você é um bom jornalista, poderá escrever bem sobre qualquer assunto, inclusive sobre moda. De um modo geral acredito que são mais úteis cursos que podem ampliar seu repertório cultural, como história da moda e história da arte. Isso ajuda a ter referências para escrever ou para criar um editorial.

Qual é a melhor e pior parte no mundo da moda?
A melhor é estar em contato com coisas bonitas o tempo todo, ver roupas lindas, poder expressar a criatividade, criar imagens que as pessoas gostem e se inspirem. Também me agrada muito poder trabalhar num clima mais informal e num mercado que respeita e celebra a diversidade.

A pior é conviver e, muitas vezes, ter que administrar egos, embora eu ache que isso não é um privilégio da moda, e sim uma coisa comum em várias profissões. Acho também que no mercado de moda falta muito profissionalismo por toda parte. E existe uma maledicência gratuita que é muito chata de lidar.

O que te atrai e prende a leitura em blogs de moda? Qual conselho você daria às blogueiras de moda para manterem um blog bacana e atrativo?
Poucos blogs de moda me atraem. Para ser sincera, acho a maioria deles muito ruim (e espero não ser odiada pela comunidade blogueira por causa dessa sinceridade). Grande parte vive de reproduzir conteúdo alheio, publicar fotos “roubadas” no google e criar posts que não passam de uma forma de enaltercer o próprio eu. Acho que falta originalidade.

Quer ter um blog? Experimente fazer algo que ainda não foi feito. Por isso gosto do The Sartorialist. Porque ele criou uma coisa nova, livre de achismos. Acho que um blog é bom quando me leva a lugares inesperados. Isso pode soar contraditório, já que eu mesma tenho um blog que vocês podem dizer que é absolutamente igual a trezentos outros. E é mesmo. Acontece que nunca tive a pretensão de ter um blog, mas a vida corporativa me exigiu isso. Como minha prioridade é fazer a revista, o blog, infelizmente, acaba ficando em segundo plano.

Quais mulheres te inspiram hoje em dia e que você acredita que sejam boas referências de estilo e personalidade?
Nenhuma personalidade nacional é referiencia de estilo pra mim. As mocinhas anônimas que eventualmente vejo nas ruas me interessam muito mais. Das internacionais, a atriz/cantora inglesa Jane Birkin sempre me inspirou e inspira. É, definitivamente, minha musa máxima. Tenho gostado muito também da editora Emanuelle Alt. Admiro mulheres que cultivam a simplicidade no jeito de ser e vestir. Para mim, aí mora a sofisticação.

O que você acha de algumas celebridades (especialmente as brasileiras) que contratam Personal Stylist para melhorar o visual, mas com isso acabam exagerando ou perdendo a personalidade. Qual você acredita que seja a diferença entre ser naturalmente e notoriamente vestida por alguém? Você acha que um bom personal stylist é aquele que parece que a cliente não tem um?
Eu acho que lançar mão de um bom personal stylist pode sim ser de grande valia para uma celebridade. Veja o caso da nossa Grazi. Ela foi reinventada, graças ao cuidado com a sua imagem. Hoje há quem a considere chic e não é raro vermos seu nome citado nas listas de atrizes mais bem vestidas, etc… Acho que nesse meio há muitas mulheres que não se interessam por moda mas que precisam cuidar da aparência, então porque não contratar esse serviço?

Acho que personalidade é assim: ou você tem ou não tem. E, se você tem, certamente não vai se deixar transformar num mero cabide nas mãos de um personal. Por outro lado, se o personal for bom, vai saber respeitar seu jeito de ser e o tipo de vida que leva na hora de montar um look.

Qual a sua opinião sobre a imprensa internacional que eventualmente critica a moda brasileira e o processo criativo de alguns estilistas, alegando serem apenas cópias de coleções já criadas anteriormente por marcas internacionais?
Acho que ainda existe muita cópia mesmo. Somos um mercado que ainda não aprendeu a pensar portanto se sente mais seguro em copiar. Não estamos acostumados a correr riscos. Por outro lado temos excelente acabamento e muitas condições de fazermos uma moda de alto nível.

Precisamos é de um design melhor. Mas reconheço que temos evoluído muito. Não podemos ser pretensiosos. Eles estão há anos luz a nossa frente e, até então, viveram sob um outra realidade econômica, totalmente diferente da nossa. Nós ainda estamos correndo atrás do prejuízo.

Quais são suas marcas e estilistas favoritas? Aquelas que você sabe que sempre pode contar com a criatividade pra um editorial bacana e aquelas que recheiam seu guarda-roupa pessoal?
Existe uma grande diferença aí, entre o meu gosto e o que tem impacto visual para um editorial. Às vezes as duas coisas se esbarram e às vezes não. Ou seja, posso gostar de uma peça ou uma coleção para um editorial mas isso não significa que gostaria dela pra vida, entende? Ou vice versa. E isso costuma variar muito de coleção para coleção. Mas, de um modo geral, para os editoriais geralmente encontro peças fortes na coleção do Reinaldo, do André Lima, do Studioacqua, dos meninos novos da Casa de Criadores, da Gloria Coelho e do Alexandre Herchcovitch.

Meu guarda-roupa pessoal é bem diferente do que eu gostaria. Adoro roupas mas não tenho investido muito nelas ultimamente. Tenho poucas peças importadas, adoro um vintage e confesso não ter preconceito, compro em qualquer lugar, desde que goste da roupa. E não tenho coragem de gastar muito numa única peça. Já fui mais consumista. Hoje me considero bem consciente. Tenho outras prioridades no momento.

Depois de algumas temporadas cheias de referências dos anos 80, qual você acredita que seja o novo caminho da moda? Você aposta numa fase mais minimalista? Qual é o norte que as consumidoras poderão se guiar para fazerem compras acertadas para as próximas estações?
Sim, acho que os 90 são os novos 80 na moda atualmente. Chega do excesso. Que venha a simplicidade, com suas formas limpas que remetem aos 90 e aos 60.

E por fim, qual aprendizado que você acha válido compartilhar com as leitoras do blog?
Estou há 15 anos nesse mercado. Já vi muita gente entrar e sair. E os que ficaram foram os profissionais sérios, que sempre estiveram aqui pelo bom trabalho —trabalho duro — e não pelo glamour. Portanto, o que eu gostaria de dizer, principalmente nesses tempos de exposição fácil, é que antes de aparecer, é importante ter o que mostrar.

Não se deslumbre com os 15 minutos de fama que as redes sociais podem te oferecer. Não se preocupe tanto com a forma e sim com o conteúdo. No fim das contas, ele é sempre mais importante. No mais, tenha paciência. Leva tempo para se construir uma carreira sólida.

Muito obrigada à Susana por ter prontamente aceitado responder minhas perguntas! E espero que todas gostem!