Na semana passada, depois do post da “bRusinha mais cara do mundo”, a da Chanel, surgiu um interessante debate no Grupo do Fashionismo e aqui na caixa de comentários, “euuu, pagar pra usar a marca dos outros estampada no peito? nem pensar” e pensamentos similares, questionadores e problematizadores acerca de logomania.
Daí veio a reflexão, a logomania provavelmente existe desde que existe a moda. Não sei quem foi a primeira, mas impossível falar da origem da onda e não pensar no Louis Vuitton.
A marca foi fundada em 1854, mas logo em 1896, Georges – o filho do Louis, criou o LV entrelaçado, pois suas malas de viagem já estava sendo copiadas e essa foi uma forma de criar uma identidade pra sua marca.
E logomania é isso, identidade. É um símbolo que representa uma empresa, um artifício visual pra se destacar no meio da multidão ou basicamente fornecer um senso de pertencimento, seja à uma classe, cultura ou até mesmo a um estilo.
E pode ser bem ou mal usada, mas sempre fez, faz e sem dúvida seguirá fazendo parte desse meio da moda e é irresistível para muitas pessoas, seja as versões mais extravagantes com Versace e Gucci ou as mais discretas com Goyard e Dior.
Agora como o tema original do post foi Chanel, a marca sempre se viu envolvida nesse meio logomaníaco e é, sem sombra de dúvida, o logo mais famoso do mundo, reconhecido por entusiastas e desencanados nos 4 cantos do mundo.
E os C’s interligados, criados pela própria Gabrielle, bien sûr, tem um significado misterioso. Alguns acreditam que a inspiração veio dos C’s usados pela rainha francesa Claude e por sua nora, Catherine de Medici. Outros acreditam que a inspiração veio dos vitrais do Château de Crémat, em Nice, local que Coco sempre frequentou.
Já um outro lado da história, e talvez o mais romântico, diz que foi uma homenagem ao seu amante e parceiro de negócios, Arthur “Boy” Capel, afinal, o próprio guarda-roupa de Capel serviu como a principal inspiração para as coleções de Coco. E não importa a inspiração original, o que fica é que a marca também foi uma das pioneiras em usar e abusar da sua logomania, algumas vezes de forma discreta, outras divertidas/criativas, mas o CC sempre se fez presente em todas suas roupas.
O CHA NEL da polêmica da blusa na realidade não tem nenhum mistério, pelo contrário, é um aceno da marca para o público mais jovem e a tentativa de correr atrás do tempo perdido e criar novos simbolismos. Apesar da blusa ser ABSURDAMENTE cara, o logo em si provavelmente é o de menos e atinge seu público-alvo, os mais jovens – e ricos, é CClaro.
Por falar neles, os jovens de hoje usam a logomania mais como uma bandeira ou declaração, do que como um símbolo de status ou ostentação. Quando falamos dos logos modernos – ou até dos antigos, mas reinterpretados, como da Gucci – falamos muito mais de irreverência, ironia e até mesmo resistência. Não sei se esse é exatamente o caso da Chanel, mas é importante deixar registado a importância, necessidade e naturalidade de um logo para marca de moda.
A marcas mais sofisticadas sempre fizeram uso dessa ferramenta, as marcas de streetswear são a logomania presente no nosso dia a dia e agora até as marcas fast fashion detém sua logomania e provavelmente essa é a estampa mais autoral e autêntica feita por elas. Recentemente, Zara e H&M criaram seus modelos com nome próprio e também querem entrar na engrenagem.
No final das contas – e muitas vezes literalmente falando, vai da gente, analisar, filtrar, questionar, mas sem deixar de entender que o artifício faz parte da engrenagem da moda e, se feito com bom uso, tá tudo bem, é só uma estampa com nome próprio.
Sou de classe média, já trabalhei na Daslu, ganhava várias coisas, tinha acesso (tocar somente) a todas as outras e virei fashion victim, já cheguei a deixar quase meu salário inteiro lá. Essa foi a época que eu mais me incomodei não só com a logomania mas com o preço das peças em si. Ok, elas eram de excelente qualidade, mas 80% das peças conseguiam ser reproduzidas por uma boa costureira ou alfaiate.
Um dia finalmente absorvi algo que eu sempre soube: não sou o público alvo dessa marca, quem comprava vestido de R$ 12.000,00 normalmente pagava à vista, muitas vezes sem logo visível. A partir daquele dia comecei a me “incomodar” com tudo, não somente o que eu não podia pagar.
Por que pagar R$ 288,00 em uma blusinha da Richard’s que possui uma igualzinha na Hering, por R$ 79,00? E porque gastar R$ 79,00 na Hering se posso encontrar uma mais barata em outro lugar? Lembrando que muitas vezes a qualidade é semelhante ,para não dizer igual.
Acho que essa reflexão vale também para as marcas populares ou lojas de departamentos que atendem à classe média, principalmente para quem se aperta para comprar algo.
Às vezes gosto, às vezes não