O ano era 2015, The True Cost foi lançado na Netflix e esfregava na nossa cara os impactos da moda no quesito social e ambiental. Baixa preocupação com o meio ambiente e alta exploração de trabalhadores, na época, o documentário buscava resposta de grandes empresas e essas, ou fugiam, ou mal sabiam elencar respostas e soluções razoáveis.
Quase 5 anos depois… e não é que o mundo acena para uma mudança? Bom AINDA não mudou como imaginamos ou desejamos, mas nossa relação com a muda já não é mais a mesma. Nos últimos anos, novas marcas éticas surgiram e as gigantes sumiram? A maioria não, mas estão mais atentas e já tem estratégias definidas – e prometidas – para um futuro mais sustentável.
A Zara é a mais polêmica e a que vem se desdobrando para mudar isso. Enquanto a sua grande concorrente, H&M, saiu na frente, a espanhola corre atrás do tempo perdido. Ela está em crise? Não, mas segundo dados, nos últimos anos cresceu menos que o planejado e isso pode ser um sinal amarelo para a gigante.
Nessa semana, a Inditex – conglomerado que detém a Zara, Bershka, Massimo Duti e outras – divulgou um Plano de Sustentabilidade com uma timeline de medidas sustentáveis para suas marcas cumprirem até 2025. O grupo está trabalhando para desintoxicar a indústria da moda com iniciativa promovida pelo Greenpeace, quem diria!
Na realidade, o primeiro passo ocorreu há 3 anos com o surgimento da Join Life e teve post aqui. Já percebeu essa linha dentro da Zara? Pois bem, ela é toda pautada em sustentabilidade. As peças dessa coleção são feitas de algodão orgânico (o processo utiliza 90% menos de água que o tradicional), lã reciclada e Tencel, um tecido feito da celulose da madeira proveniente de florestas certificadas e responsáveis, reduzindo assim o impacto ambiental.
E se no seu lançamento, a linha ocupava 10% das araras da Zara, em 2020 ocupará 25% e a cada ano um crescimento progressivo para se encaixar nessa nova era. Até 2025, o objetivo é usar somente poliéster reciclado e garantir que toda a sua viscose, linho e algodão sejam produzidos de forma mais sustentável.
E junto às questões sustentáveis, eles citam o aspecto social e humano, o que significa que eles terão mais responsabilidade em suas fábricas e com seus funcionários. Quando o assunto é trabalho escravo, alega-se que as marcas não conseguem ter “controle” sobre fábricas terceirizadas, mas com essa nova política, a ideia – diria, obrigação – é que se tenha 100% de controle.
A própria H&M já trabalha nesse formato e contei num podcast recente que muitas de suas peças já constam na própria etiqueta sua origem (não o país, o endereço direto da fábrica) e o nome dos funcionários que a produziram.
Além disso, quando o assunto é loja, até o final desse ano, as 7500 lojas da Inditex espalhadas pelo mundo, receberão o selo eco-eficiente, pois atenderão aos padrões ecologicamente corretos, reduzindo o consumo de energia em 20% e o consumo de água em 40%. E até 2023, a empresa planeja eliminar todo o plástico de uso único das embalagens para os clientes.
Por fim, até 2020, toda loja vai ter um espaço para descarte de roupa, incentivando assim a reutilização de tecidos da parte deles e, provavelmente, um desconto para os clientes (a H&M oferece 10% off).
Tudo parece muito bem e impressiona os consumidores da fast fashion (ok, me incluo nessa), mas os mais céticos ainda questionam, afinal, o plano de sustentabilidade não faz menção ao modelo original da marca: fast fashion, moda rápida e isso não combina com a tal da sustentabilidade.
Sabia que semanalmente a marca produz 500 modelos, ou seja, 20.000 modelos por ano e muito mais roupa – e menos qualidade – do que gente usando? O que especialistas citam, é que há uma dissonância nesse discurso, pois quando uma marca que lucra com um modelo de negócio ativamente prejudicial ao meio ambiente, elabora um plano de sustentabilidade que não inclui revisão desse modelo, a equação não fecha. O The Slate fez um post muito interessante chamado “A Zara nunca será sustentável”, vale a leitura.
Por outro lado, a Vogue abordou o mesmo tema do sustentabilidade x fast fashion e notou que novas lojas da Zara já podem vir com esse novo modus operandi de slow fashion. “Desacelerar, comprar menos, fazer o que temos durar mais, esse certamente parece ser o caso da mais nova loja da Zara em Nova York, no Hudson Yards (as fotos do post são dessa loja), onde o sentimento geral é de que as peças estão mais editadas e pensadas, há uma abordagem mais calma, reflexiva e de menos-é-mais”. A matéria ainda entrevista 3 designers da marca e sua visão sobre Zara e sustentabilidade, achei muito interessante, pois eles mal aparecem, agora não só aparecem como se posicionam. A conferir.
Não importa o seu lado, seja flexível ou radical, reflexivo ou cético, a mudança no mercado atinge e vai impactar nossa forma de consumo e isso é bom, seja abolir ou reinserir, é uma mudança válida. O tempo está passando rápido, acredita?
Excelente!Acho que esse movimento é um caminho necessário e sem volta -ainda bem!!
Acho que, se por um lado podemos celebrar que a pressão sofrida por essas marcas antiéticas tem surtido efeitos positivos (?), por outro temos que sempre observar se não se trata apenas de um “greenwashing”, assim como nos cosméticos, que aparentam ser mais verdes apenas para ludibriar os desavisados. Não vejo como uma marca de fast fashion, enquanto permanecer “fast”, poderá ser sustentável. Mas vamos aguardar para ver, espero muito estar errada.
Há alguns anos atrás te mandei um DM falando justamente sobre Zara, consumo e sustentabilidade, e sua resposta na época foi “se eu diminuir sozinha não vai fazer diferença”. Fico muito feliz que finalmente o Fashionismo tá falando sobre isso e influenciando positivamente suas seguidoras, esse foi meu pensamento qnd te mandei aquele DM. Se a Zara vai cumprir o q prometeu não sei, acho válida a iniciativa, mas no final é o sistema do fast fashion que não é sustentável, então criar uma coleção, ou até mesmo usar tecidos mais sustentáveis não resolve a questão do consumo e não garante q trabalhadores estejam sendo bem tratados.
Sou suspeita para falar da Zara :heart: , mas das fast fashion que consumo, acho que a qualidade dos produtos dela é extremamente superior. Tenho peças da Zara que têm 10 anos e continuam super dignas, mesmo depois de mto uso. Falo isso para dizer que apesar de ser uma fast fashion que vive do consumo rápido, vejo em suas lojas muitas peças atemporais e de qualidade, o que torna possível um consumo mais consciente.
Fiquei feliz com as novidades e vou ficar atenta as etiquetas dessa linha mais responsável!
No final das contas, acho que aos poucos as lojas estão implantando mudanças positivas para entrar nesses novos padrões de consumo e cabe a nós consumidores pensar e entrar tb nesse caminho… às vezes eu vejo as pessoas cobrando atitudes novas das lojas, mas não respondem mudando suas próprias atitudes…