Gastronomia, Viagem  •  21 maio 2015

VINHO DE QUINTA: POR DENTRO DO CHILE

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Olá pessoal, tudo bom? Dessa vez pensei em escrever sobre variedades de uvas em posts separados, mas percebi que seria algo um pouco vago, uma vez que cada tipo de uva tem aspectos muito distintos dependendo do país ou região em que foi cultivada. Por exemplo: a Merlot produzida nos EUA se comporta de forma completamente diferente do que em Bordeaux, e isso se aplica a todas as outras. Não dá pra chegar a um senso comum das características de cada casta sem considerar a área de produção, vinícola e etc… Resumindo, as variedades de uvas tem se tornado cada vez mais internacionais e adquiriram personalidade própria em praticamente todas as regiões produtoras do mundo.

Então, ao invés de falar sobre cepas separadamente, decidi postar sobre países ou regiões produtoras, da mesma forma que fiz com a Espanha, mas especificamente Rioja. Acho que assim pode ficar mais eficiente, pois a maioria das pessoas que começam a comprar vinhos, primeiro se interessam por um determinado país e por aí vai!

Hoje o tema será o Chile, país do Novo Mundo que atualmente ocupa a nona posição no ranking dos maiores produtores do mundo e é o maior responsável pelas exportações para o Brasil. Não é de se admirar que muita gente se interesse pelo país, principalmente pelo fato de haver boas ofertas com ótima relação qualidade X preço. No final do – longo – post, uma seleção de rótulos que eu recomendo.

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Sabemos que é um território muito estreito entre a cordilheira dos Andes e o oceano Pacífico, com isso, ele possui ótimas peculiaridades. As regiões vinícolas são formadas por vales e o clima é beneficiado pela brisa do Pacífico que traz condições ideais para o cultivo. A variação climática entre as regiões é outro fator de qualidade, bem como a amplitude térmica de algumas áreas resultando em dias quentes com noites frias, perfeito para a boa maturação das uvas.

Como as regiões são influenciadas por diferentes climas (seco, úmido, influência marítima, exposição solar, etc) e solos (calcário, arenoso, vulcânico, etc), as áreas costumam produzir uvas com ótima tipicidade e que se diferem entre uma região e outra.

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A principal uva do Chile é a Cabernet Sauvignon, porém a cada ano a qualidade de cepas como a Syrah, Merlot e Pinot Noir e as brancas Chardonnay e Sauvignon Blanc vem surpreendendo devido à constante busca por terras, solos e climas de norte a sul apropriados para que as variedades se expressem em todo seu esplendor.

Claro que não podemos esquecer da Carménère, uva emblemática do país, oriunda da França, mas que encontrou no Chile perfeitas condições para se transformar em vinhos fantásticos. Muita gente ainda torce o nariz para a Carménère, e não é de se espantar, essa é uma uva com amadurecimento mais tardio, e deve ser colhida depois.

Algumas vinícolas, de qualidade questionável, realizam a colheita da uva na mesma época das demais que ocasionalmente sejam cultivadas também, com isso, a uva ainda não está no estágio perfeito de maturação e isso certamente se reflete no produto final. Com isso, o vinho parece ficar ainda meio “verde”, com taninos muito amargos e um gosto exageradamente herbáceo, muito vegetal. Na verdade parece “xixi de gato”, isso mesmo, se vocês já tomaram um Carménère e odiaram, o motivo deve ser esse. Contudo, quando a uva é bem trabalhada e respeitada, os vinhos são macios, cheios de fruta madura, maravilhosos!

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O que se esperar de um vinho chileno? Não dá pra generalizar, afinal, o país tem diversas regiões com características próprias e vinícolas com métodos e estilos diferentes. Podemos encontrar de rótulos medíocres e baratos à jóias raras caríssimas que rivalizam com clássicos do Velho Mundo. Isso não ajuda muito né? Mas se formos analisar boas compras por até R$ 80,00 teremos um mar de opções de vinhos simplesmente encantadores, elegantes e que fazem bonito em qualquer mesa.

O Chile, assim como a Argentina, passou por um período de modernização, novas técnicas e métodos de produção foram adotados e consultores americanos contratados para transformar os vinhos do país em produtos com apelo internacional. Deu certo e hoje em dia as exportações do país tem crescido em todo o mundo. Claro que toda essa modernização trouxe também algumas críticas, há pessoas que dizem que muitos vinhos chilenos ficaram parecidos, com características muito similares. São os chamados vinhos globalizados, com rótulos elaborados exclusivamente para agradar os paladares internacionais, que pedem por sabores mais concentrados, mais álcool e madeira.

Eu mesmo passei algum tempo sem provar nada do Chile em função disso, porém várias vinícolas de hoje estão produzindo vinhos com personalidade, respeito à tradição e tipicidade. São as vinícolas de garagem ou boutiques, com produção limitada e foco primordial na qualidade com métodos biodinâmicos. De qualquer forma, a qualidade dos vinhos chilenos é inegável e qualquer apreciador precisa experimentar, desde os produtos das gigantes do setor até os pequenos produtores com produção artesanal.

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Para quem quer visitar o país e não tiver muito tempo vai uma dica: não deixem de visitar o Vale do Maipo, fica muito perto de Santiago, mais ou menos meia hora de carro, e é super direcionado ao turista com muito entretenimento. A famosa vinícola Concha Y Toro, por exemplo, recebe muitos brasileiros e tem uma programação ótima.

Decidi começar a seleção não com um vinho específico, mas sim uma linha que representa muito bem o conceito moderno da vinicultura Chilena. Os vinhos Marques de Casa Concha pertencem ao maior Grupo de Vinhos do Chile, a Concha Y Toro, empresa modelo no sentido de inovação e que cresceu junto com o próprio desenvolvimento do setor no país.

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Marques de Casa Concha Sauvignon Blanc 2012 – D.O Vale do Leyda:  Belo exemplar da casta Sauvignon Blanc, fresco, aromático com notas de maracujá e lima, boa mineralidade e acidez. Ótimo como aperitivo.

Marques de Casa Concha Chardonnay 2012 – D.O Vale do Limarí: Representa muito bem a tipicidade da Chardonnay. O clima da região é perfeita para a casta e o vinho apresenta aromas de pêras e maçã verde. Na boca não tem aquele gosto de xarope enjoativo que muitos Chardonnays mostram, muito pelo contrário, é mais mineral, persistente sem perder aquela cremosidade deliciosa. Frutos do mar, e peixes grelhados são a pedida.

Marques de Casa Concha Pinot Noir 2013 – D.O Vale do Limarí: Eu adoro esse Pinot Noir. Muito diferente dos muitos Pinots modernos com sabores artificiais que parecem ter aspartame na composição. Não é o caso desse, que tem aromas maravilhosos de morangos frescos, pimenta, e um fundo de goiaba que deixa o vinho ainda mais interessante. Na boca tem corpo médio, acidez no ponto e taninos macios. Bom para tomar sozinho ou com queijos não muito fortes.

Marques de Casa Concha Merlot 2012 – D.O Vale Cachapoal – Peumo: Se pudesse descrever esse Merlot com uma palavra seria, maciez. Vinho redondo, frutado com muita fruta vermelha como cerejas, ameixas doces e notas de chocolate. Na boca parece uma seda de tão macio, delicioso! Carnes vermelhas e massas com molho mais forte acompanham bem.

Marques de Casa Concha Carmenere 2012 – D.O Vale Cachapoal – Peumo: Carménère muito bem elaborado com estilo encantador. Maduro, sem amargor nenhum. Muitas frutas negras como amora, groselhas, também pode-se sentir chocolate amargo e pimenta preta com um toquezinho vegetal só pra aumentar a complexidade. Churrasco de inverno casa muito bem.

Marques de Casa Concha Syrah 2012 – Vale do Maipo:  Esse Syrah é gordo, suculento com muita fruta preta em geleia, compota de amoras, ameixas e leve defumado e bastante especiarias e hortelã. Aqui vocês vão perceber bem nitidamente a presença de madeira. Vai muito bem com carnes, churrasco e queijos fortes.

Marques de Casa Concha Cabernet Sauvignon 2011 – Vale do Maipo – Puente Alto: Clássico Cabernet do Maipo. Talvez o mais complexo da linha. Aromas de licor de cassis, figo, madeira de cedro e especiarias como pimenta e noz moscada, muito rico. Na boca é encorpado, com sabores de frutas escuras e madeira aparecendo bastante também, porém sem incomodar. Combina com muitos pratos, mas cordeiro tem tudo pra harmonizar legal.

Certamente todos os vinhos da linha são muito bem feitos, vale muito a pena conhecer! São realmente o cartão postal da vinicultura moderna do Chile e podem ser encontrados em vários supermercados e lojas, muitas vezes com ótimas promoções e valores variando entre R$70 a R$90.

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Essas foram apenas algumas opções de vinhos que eu gosto. Há também muita coisa mais barata e com excelente qualidade, não percam a oportunidade de experimentar a diversidade que o Chile oferece. Com boa pesquisa vocês verão que há ótimas compras pra todos os bolsos.

Por favor, se tiverem alguma dúvida, por menor que seja, não deixem de perguntar!

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18 comentários em "VINHO DE QUINTA: POR DENTRO DO CHILE"
  1. Graziella
    21 maio 2015 // 22h46

    Adoro esse tipo de post! Eu e meu marido amamos vinhos! Já fomos na Concha Y Toro. O local é lindo e os vinhos maravilhosos!

  2. Babi
    22 maio 2015 // 00h26

    Amei, Rodrigo! Post muito bem escrito e super interessante! Vou colocar na minha wishlist ;)

  3. Marta Zanetti
    22 maio 2015 // 07h17

    Adorei o post, mas fiquei com uma dúvida: e o Concha y Toro basicão, qual a diferença, além do preço é claro. Também vejo muito vinho “reservado” e sei que são vinhos questionáveis, principalmente por que me falaram que têm açúcar, mas existe algum que se salva? Você e a Thê escrevem muito bem! Obrigada!

    • Rodrigo
      23 maio 2015 // 18h40

      Olá,
      muita gente tem essa dúvida. Os vinhos mais básicos da Concha y Toro são os “Reservados”. Na verdade essa nomeclatura é meio que jogada de marketing para o nome parecer com reserva, mas de reserva não tem nada. Eu não gosto, são muito artificiais. Você pode encontrar opções bem melhores na mesma faixa de preço como por exemplo os vinhos de entrada da Canepa, a linha se chama “Novísimo”. Pode procurar na wine.com.br. Estão por volta de 20 reais.
      Abs.

  4. 22 maio 2015 // 13h32

    Estou A-M-A-N-D-O esta série sobre vinhos! Fui ao Chile em outubro do ano passado, e além da Concha y Toro (compramos Marques de Casa Concha e adoramos também) fomos na Undurraga. O plano de visita é mais detalhado, mas a degustação nem se compara com a Concha, quando é o pacote com a degustação com harmonização e etc. Mas dei um baita azar, em ambas as vinícolas explicaram que por conta do último inverno rigoroso as cepas foram dizimadas.. os campos estavam limpos :(
    Uma pena, mas ainda assim, além destas, fiquei com uma super vontade de visitar a Montes Alpha, você já foi? Acabei trazendo um Carmenere deles, que ainda não bebi (rs), mas me indicaram super a visita à vinícola e todos os vinhos.

    http://www.eitamoca.com

    • Rodrigo
      23 maio 2015 // 18h34

      Olá, A Viña Montes, que faz o Montes Alpha é uma das mais conceituadas no Chile. Ainda não visitei, mas com certeza recomendo. Tenho um carinho especial pelos vinhos deles, pois o Montes Alpha Cabernet foi um dos primeiros vinhos finos que eu experimentei, e foi o vinho que me fez entrar nesse mundo. O Carmenere é simplesmente fantástico.
      Você falou sobre a Undurraga, os vinhos deles são maravilhosos, principalmente a linha Terroir Hunter (TH), mas os vinhos de entrada, mais básicos também valem a pena.
      Abs.

  5. Pamela
    22 maio 2015 // 15h05

    Ótimo post! Estou adorando vinho de quinta!!

  6. Vanessa
    22 maio 2015 // 15h26

    Oi Rodrigo,
    tenho gostado bastante dos seus textos, e vim aqui pra pedir pra você fazer um post sobre clube de vinhos. O que acha?
    Até mais!

    • Rodrigo
      23 maio 2015 // 18h28

      Olá, ótima ideia. Existem alguns clubes de vinho bem interessantes e com boas seleções. Valeu pela dica. Abs.

  7. Paula Fernandes
    22 maio 2015 // 23h17

    Olha… comecei nesse mundo dos vinhos há pouquíssimo tempo, mas confesso que agora espero ansiosamente as quintas-feiras! Os posts estão demais! Tudo muito bem explicado sem ser chato. Continue por muito tempo com essa coluna, por favor hahaha sucesso!

  8. Juliana Lima
    23 maio 2015 // 00h01

    Estou achando os posts maravilhosos, realmente fáceis de entender, pela primeira vez estou entendendo algo sobre vinhos. Acho muita generosidade dividir um conhecimento tão legal e que por vezes as pessoas insistem em dificultar.
    Mas legal ainda é ver como Thereza escreve completamente informal e cheia de piadinhas e Rodrigo parece mais sério, mas dá pra ver semelhanças (Estou louca?) HAHA

    • Rodrigo
      25 maio 2015 // 22h22

      Hahaha. Não está louca não. É por ai mesmo.
      Abs.

  9. Alessandra
    23 maio 2015 // 00h49

    Amei o post! Quando fui ao Chile tambem visitei a Casa Lapostolle e a Montes Alpha!

    • Rodrigo
      25 maio 2015 // 22h20

      Ótimas vinícolas. Boa escolha.
      Abs.

  10. Cecilia Siqueira
    24 maio 2015 // 20h40

    Olá Rodrigo e Thereza! Gostaria da opinião de vcs: quais vinhedos vcs acharam mais interessantes: Chile ou costa da Califórnia? Obrigada!!

    • Rodrigo
      25 maio 2015 // 22h17

      Olá,

      na verdade ainda não fomos para o Chile apesar de conhecermos muitas pessoas que foram, além de alguns profissionais do ramo. Vale muito a pena visitar, pois além de ser pertinho daqui, o enoturismo cresceu muito por lá. O Vale do Maipo, por exemplo fica a muito perto de Santiago.
      Quanto à Califórnia, nós fomos no início do ano, o estado é lotado de regiões vinícolas de Norte a Sul. Fomos ao Napa e Paso Robles(mais próximo de Los Angeles). É muito legal, o americano sabe dar show. A cena gastronômica é outro ponto forte, jantamos em restaurantes fantásticos.

      Tanto o Chile quanto a Califórnia são boas opções, mas para iniciar acredito que o Chile seja mais em conta.
      Abs.

  11. Talita
    26 maio 2015 // 15h38

    Não entendo nada de vinho,mas tomei um lá no restaurante Astrid y Gastón chamado Orzada, da vinícola Odfjell, que achei maravilhoso. Vc conhece? Dá seu parecer técnico…
    Tenho uma dúvida: pq alguns vinhos tem gosto forte de álcool? São vinhos de qualidade inferior?

    • Rodrigo
      27 maio 2015 // 21h07

      Olá, conheço os vinhos da linha Orzada sim, o meu preferido é o Carignan, mas todos são muito equilibrados e sem exagero. Quanto à questão do álcool nos vinhos, quando ele aparece demais e fica muito presente na boca ou no nariz é sinal de que o vinho não está equilibrado. Existem muitos vinhos assim, mas o ideal é que o álcool não apareça e principalmente, não incomode.
      Abs.